João Neves foi um dos elementos da equipa que, em 1991, trabalhou as primeiras ligações em Portugal à Internet. O técnico especialista coordenador do INESC TEC recorda o papel da Unidade FCCN nesse trabalho pioneiro, destacando o espírito de equipa vivido que considera “inesquecível”.

4 perguntas que recordam a ligação de Portugal à internet

No próximo outono, assinalam-se 30 anos passados sobre a ligação de Portugal à Internet. Pode descrever-nos o papel da Unidade FCCN (então Fundação para o Desenvolvimento dos Meios Nacionais de Cálculo Científico) neste processo?

Há 30 anos tínhamos ligações pontuais de poucas instituições que lhes permitiam encaminhar tráfego internacional, não somente em IP. A conetividade nacional entre as instituições académicas e de investigação e a disponibilização do acesso à Internet, para esta comunidade, creio que só foi possível pelo esforço e recursos disponibilizados pela FCCN. Parece-me que é justo destacar, da parte da FCCN, a intervenção do Prof. Vasco Freitas na dinamização das várias etapas.

Enquanto elemento da equipa que executou o projeto de ligação de Portugal à Internet, o que nos pode contar sobre esse tempo e essa experiência?

A palavra chave é mesmo essa: “equipa”. Os elementos desta equipa eram um conjunto de adeptos curiosos e dedicados à ideia de interligar em TCP/IP as instituições portuguesas e depois ter acesso aos serviços e fontes de informação disponíveis na Internet. Embora estes elementos estivessem localizados em diferentes cidades do Norte ao Sul do país, era muito motivante a discussão de ideias e soluções, e saber que podíamos contribuir para a evolução dos ambientes de comunicações sobre TCP/IP. Sendo que a disponibilidade para colaborar era uma mais-valia do grupo. As nossas listas de e-mail eram muito dinâmicas, por vezes havia troca de mensagens de dia e pela noite fora! Algo que é inesquecível para quem gosta e trabalha nesta área.

Durante as três décadas seguintes, assistimos a uma evolução exponencial da Internet e tecnologias de base. Era algo que antecipavam como o caminho a tomar no início da década de 1990? Era possível prever o seu impacto na sociedade?

Creio que nenhum de nós na altura imaginava que a Internet viria a ser “a rede” de toda a sociedade, tal qual a percebemos hoje. No entanto, era possível perceber que era um assunto que valia a pena investir dadas as potencialidades evidentes. É importante relembrar que à época o TCP/IP não era a solução para a maioria das redes locais, principalmente nas redes empresariais. No entanto, parece-me que a evolução das tecnologias de base, estimulada principalmente pela expansão da Internet aos ambientes heterogéneos da sociedade, excedeu as expectativas dos mais visionários da época.

Para esta evolução exponencial sem dúvida que contribuiu a crescente popularidade e adesão aos serviços que começaram a estar disponíveis na Internet, com especial relevância para a Web. Uma das melhores consequências desta popularidade foi a imposição ao Mercado da descida dos custos das comunicações e dos equipamentos, acompanhada da natural crescente melhoria do desempenho do hardware.

Sente que o mundo online se enquadra hoje, de forma global, nos objetivos e missão que preconizavam em 1991?

Parece-me que, nos dias de hoje, a dimensão do mundo online excede os objetivos e missão previstos na década de 90. Hoje temos inúmeros serviços e aplicações com requisitos funcionais e não-funcionais que exigem da rede uma complexidade que na década de 90 não parecia possível. E estas implicações traduzem-se no ponto de vista tecnológico e nas políticas de uso da rede.

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