Para assinalar os 30 anos do PIX (Portuguese Internet Exchange), serviço digital da FCT, operado pela FCCN, conversámos com Carlos Friaças, responsável pelo CSIRT FCCN, serviço digital da FCT, que nos ajudou a compreender a origem, evolução e relevância desta infraestrutura essencial para a Internet em Portugal.
Tópicos deste artigo:
O PIX nasceu há 30 anos. O que motivou a sua criação, quais eram os objetivos na altura e que principal desafio procurava responder?
Apesar de ter passado a trabalhar na manutenção deste serviço no ano de 2000 (e desde 2015 apenas com responsabilidades no vetor da segurança), o objetivo que levou em primeiro lugar à sua criação foi a poupança de tráfego internacional.
A nível europeu estavam a surgir diversas movimentações (na comunidade RIPE), no sentido de criar plataformas de troca de tráfego locais, para benefício mútuo dos seus participantes e, naturalmente, as redes portuguesas também queriam esses benefícios para si.
Quem foram os parceiros ou instituições-chave no arranque do serviço e como contribuíram para o seu sucesso inicial?
Além da FCCN, que geria na altura a RCCN (Rede da Comunidade Científica Nacional), os restantes parceiros foram a Telepac (do grupo Portugal Telecom), a EUnetPT (mais tarde adquirida pela atual NOS) e a IP Global (uma marca do grupo Sonae que foi também integrada na atual NOS).
Recorda-se de algum momento marcante ou conquista dos primeiros anos do PIX que tenha sido determinante para a sua consolidação?
Creio que esse momento será a internacionalização, com a chegada de redes IP que tinham presença não só em Portugal, mas também na Europa e mesmo noutros continentes. A atração de redes multinacionais só foi possível porque se criou a massa crítica suficiente em Lisboa para essas redes avaliarem que a troca de tráfego em Portugal também lhes era vantajosa.
Mais tarde, também foi importante a expansão a mais centros de dados na área de Lisboa, nomeadamente a um de índole comercial, mérito da Engenheira Ana Pinto e do Engenheiro Pedro Lorga.
Se olharmos para a Internet em Portugal antes e depois do PIX, que diferenças destacaria, sobretudo no contexto das redes académicas? Que problemas este serviço veio resolver?
No período “antes do PIX” ou existiam ligações diretas entre operadores de internet ou o tráfego tinha de sair do país e voltar a entrar, consumindo um recurso à data precioso e caro.
Historicamente, a rede académica esteve sempre interligada com as suas congéneres europeias, pelo que o PIX veio melhorar significativamente a conectividade do nosso meio académico com os operadores de internet comerciais em Portugal, o que representou um benefício mútuo considerável.
Em termos técnicos, a existência do PIX veio diminuir significativamente a latência das comunicações IP, e permitir uma aproximação real entre os diversos operadores em Portugal.
Três décadas depois, que relevância considera que o PIX mantém para a comunidade académica portuguesa e por que razão continua a ser um serviço estratégico?
Eu considero que a relevância é muito elevada, apesar da pouca divulgação que a plataforma tem, talvez porque não seja dirigida ao público em geral, mas apenas aos operadores. O PIX tem apenas algumas dezenas de membros, mas essas dezenas de membros servem milhões de utilizadores da Internet em Portugal.
O PIX continua a ser estratégico para a comunidade académica portuguesa, porque é algo que permite a manutenção da sua neutralidade ao nível IP e, ao mesmo tempo, mantém a proximidade com as outras redes IP em Portugal.
Não nos podemos esquecer que durante o dia temos uma grande comunidade a usar a RCTS, mas as mesmas pessoas, quando se movem, ou na sua própria casa, usam outras redes para chegar aos conteúdos/serviços/plataformas das suas instituições.











