Férias! Passamos meses à espera da oportunidade de soterrar os dedos dos pés em alguns centímetros de areia, enquanto ouvimos ao longe o ribombar das ondas a compasso, com a devida distância de segurança, é claro.

Mas estar de férias não é sinónimo de parar de aprender. O cérebro é uma criatura já de si preguiçosa, que necessita de ser constantemente estimulada para não esquecer as coisas. Quando não esquece, constantemente baralha e mistura com outras memórias.

Alguma vez se perguntou, como eu, porque volta atrás para confirmar se a porta está mesmo fechada e se a chave rodou vezes suficientes para a trancar? Eu faço-o constantemente, pois as tarefas mundanas e repetitivas têm pouca ou nenhuma importância para a nossa memória. Ocasionalmente vemos o mesmo efeito no ensino regular, em que a palavra-chave é estudar e, poucas vezes, praticar.

Estudar coloca-nos no momento. É a atividade que praticamos antes daquele exame importante para colocar tudo na memória a curto prazo. É este fenómeno que faz com que tenhamos uma vaga ideia de certas disciplinas e conceitos que fomos deixando para trás nosso percurso de formação.

Já praticar ajuda a manter o saber ativo. Quanto mais praticamos, melhor retemos. Como um armário, a roupa que utilizamos mais está sempre à mão, enquanto aquela que já não utilizamos tanto, porque está desbotada ou porque as visitas ao frigorífico aumentaram com a pandemia, está perdida no fundo do armário. Com tudo isto, considero que o período de verão é ótimo para aprender algo novo ou para trabalhar uma nova competência, de uma forma mais informal (e bronzeada) e sempre com o devido valor que o conhecimento exige.

Audiolivros e podcasts

Comecemos pelas viagens de várias horas, rumo a norte ou a sul, sozinhos ou na companhia da família, na promessa de breves dias de descanso. Em três horas de caminho ouvimos o mesmo single quatro vezes, até à decisão de silenciarmos o rádio. Estas três horas podem ser aproveitadas de uma forma bem mais produtiva.

Uma das atividades que mais gosto envolve ouvir um bom podcast numa viagem mais longa. Mesmo que a sua preferência possa ser algo mais visual, os podcast são temáticos e têm imensa informação que é possível de fixar com alguma facilidade, principalmente pelo tom de “conversa de café” que imprimem. Neles, sentimo-nos parte da conversa e não meros ouvintes. Identificamo-nos com as experiências descritas pelo intervenientes e, não raras as vezes, respondemos com um sonoro “eu também”.

A oferta de podcasts é tendencialmente gratuita, sempre com o objetivo de disseminar experiências ou conhecimento.

Plataformas como o Google Podcasts ou o Spotify são poderosos motores de busca e indexação deste tipo de conteúdo e, tendo em conta a sua disponibilidade, porque não experimentar?

Já os audiolivros são algo bem mais específico. Quem nunca passou pela experiência de ler um livro na praia e acabar com um marcador de página feito de areia e de protetor solar? Não querendo fazer disto um anúncio televisivo, daqueles para vender um qualquer produto mágico que resolve um problema menor, admito o meu gosto pessoal pela flexibilidade que consigo de um audiolivro.

Se crescemos a ouvir  adultos a contarem-nos histórias para adormecer, porque não ouvir um profissional a narrar uma qualquer obra de ficção ou uma passagem da bibliografia de alguém por quem nos sentimos inspirados? Um bom livro, mesmo que seja ficção, traz consigo aquisição de novo vocabulário ao nosso compêndio gramatical. Um bom audiolivro adiciona-lhe a correta dicção e compreensão do sentido de certas palavras numa frase.

Se esta explicação lhe aguçou o interesse, então nada como visitar a plataforma Audible e experimentar uma das obras ao dispor. Pode também visitar o site na língua inglesa e ter acesso a outras milhares de obras nesta língua, para começar já a praticar para umas férias internacionais.

Audiobooks nas férias

Jogos e flashcards

 A aprendizagem torna-se muito mais interessante quando misturada com diversão. Os jogos são, por si só, atividades de relaxamento e descontração, isto quando não somos atletas de um qualquer desporto electrónico!

Jogamos para libertar a pressão do quotidiano e dos problemas que nos rodeiam. Usamo-los como plataformas de abstração e experimentação. É aí que eles brilham.

Muito se tem dito sobre a associação entre os jogos e a aprendizagem. Há quem defenda que são ótimos motivadores para continuar a aprender e  que as suas mecânicas podem facilmente ser aplicadas noutras áreas (gamificação). Eu, como muitos outros apreciadores de jogos, concordo com estas ideias.

Provas de que os jogos são ótimos para aprender podem ser encontradas em aplicações como o Duolingo. Nesta app, disponível em praticamente todos os dispositivos móveis, somos compelidos a aprender uma nova língua numa estrutura prática e em formato de jogos. Cada vez que completamos um marco, recebemos uma recompensa, o que nos traz a vontade de voltar a jogar e passar ao nível seguinte.

Os jogos também nos permitem aprender através do erro, construindo os espaços de experimentação para que isso aconteça. Um exemplo disto é o que encontramos no referido Duolingo, que deixa o aluno errar quantas vezes necessário, sem bloquear o seu avanço por completo ou sem o obrigar a recomeçar do zero.

Outra das atividades que vos deixo são os flashcards, cartões que ajudam à memorização de conceitos e palavras através da repetição. Curioso que muitos de nós em idade adulta deixamos de ouvir falar destes cartões ou simplesmente nos esquecemos que eles fizeram parte da nossa infância, aquando a aquisição de vocabulário básico.

Os flashcards estão agora disponíveis de uma forma digital em aplicações como o DuoCards e são ótimos auxiliares de memorização. Podemos utilizá-los com as últimas palavras que adquirimos em determinada língua ou com os conceitos que não queremos esquecer sobre determinada matéria. De um lado escrevemos a palavra e do outro o seu significado. Depois disso, como qualquer boa receita, 5 minutos por dia de memorização e o seu “six pack” cerebral vai, com certeza, sair fortalecido.

Fazer um curso de curta duração

Admito que aproveitar as férias de verão para fazer formação não é algo habitual, mas para mim faz todo o sentido. Talvez porque estou de férias, porque não estou ansioso com um prazo de entrega que se está a aproximar a passo rápido ou porque sei que posso aprender algo completamente fora da caixa para aplicar numa obra lá por casa. O interessante do conceito de aprender é que nunca temos um número de horas mínimo para o fazer. Cada um de nós consegue, autonomamente, fazê-lo à sua medida.

Neste âmbito, os cursos massivos e abertos (também conhecidos como MOOC) permitem ter acesso a conteúdo de elevada qualidade criado por entidades diversas entidades especializadas como universidades e politécnicos. A NAU é uma  plataforma, dedicada à lusofonia e aos conteúdos em português, onde é possível fazer um curso gratuito a qualquer dia e a qualquer hora. Porque não aproveitar aquele dia de céu encoberto para saber mais sobre o RGPD, conhecer os fundamentos da Acessibilidade Digital e a sua importância ou fazer uma iniciação à prova de vinhos, de preferência com a parte prática.

Não existe um tempo ideal para aprender, isso é certo, mas aprender não tem de ser algo formal, aborrecido ou que envolva longos períodos de tempo. Nos últimos anos tenho tirado partido dos diversos meios disponíveis para adquirir novo conhecimento em matérias que vão desde a engenharia à culinária. Eu vou continuar a tirar partido destas ferramentas, deixando aqui as minhas sugestões para que também o possam fazer.


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