O PIX – Portuguese Internet Exchange, serviço digital da FCT, operado pela FCCN, celebra 30 anos. Foi neste contexto que conversamos com o atual gestor do serviço, João Silva.  

Qual é hoje o papel do PIX na infraestrutura da Internet em Portugal e como se posiciona no ecossistema internacional de pontos de troca de tráfego? 

Deixando uma pequena nota introdutória expandindo a minha opinião quando abordar a crescente importância e o seu futuro, o PIX é uma infraestrutura critica a nível nacional já que promove o peering neutro, reduz custos e latência para o tráfego com origem/destino em Portugal. 

Em termos internacionais, é um IXP regional/nacional bem integrado (membro fundador do Euro-IX, por exemplo), alinhado com a visão e estratégia do nosso congénere espanhol (ESpanix), mas não concorre em escala com os maiores hubs europeus — antes complementa-os, mantendo muita troca de tráfego dentro do país. 

Que impacto tem o PIX na comunidade académica e nos centros de investigação? 

Gostaria de começar a responder a esta pergunta com um número. A RCTS utiliza cerca de 40 Gbps de tráfego diário via PIX, o que demonstra a sua importância como canal de interligação entre redes académicas e comerciais. 

O PIX pode alavancar o acesso mais rápido a dados científicos, crucial quando o volume de dados é massivo, mas também permite a colaboração científica em tempo real ao reduzir a latência em videoconferências de alta qualidade entre investigadores, em projetos colaborativos com partilha de dados em tempo real ou ainda alavancando plataformas de ensino à distância e laboratórios remotos. 

Por último gostaria de salientar o seu apoio à inovação e ao desenvolvimento tecnológico, não possuindo custos fixos mensais, auxilia pequenas e novas empresas fora do âmbito académico, mas também startups e empresas incubadas em universidades podem beneficiar de conectividade de alta qualidade para testar e desenvolver soluções tecnológicas. Numa frase, diria que impulsiona a transferência de conhecimento entre academia e indústria! 

Com a crescente importância de tecnologias como a cloud ou a Internet das Coisas, que papel pode o PIX desempenhar no suporte a estas novas tendências? 

Colocando o foco na cloud, já que penso ser mais relevante, a cloud tem potenciado um crescimento exponencial em termos de infraestruturas de datacenters. Portugal, assim como outros países com redes emergentes, está projetado para multiplicar por 3 a 5 vezes a sua procura por eletricidade para datacenters até 2035. Um novo cluster de datacenters no país traz clientes imediatos para IXPs locais, impulsionando tráfego e atraindo operadoras de CDN e grandes content owners

Com a expansão energética, também surgirá uma pressão geográfica global: muitos hubs tradicionais perderão prioridade, pelo que mercados emergentes, como Portugal, podem usufruir desse investimento. 

A localização geográfica pode permitir ao país ser um dos melhores pontos estratégicos da Europa para desenvolver interconectividade regional e global. Tem todas as condições para tornar-se um hub digital de primeira linha, melhorando a soberania digital e a competitividade tecnológica. 

Ao longo destes 30 anos, que marcos ou conquistas destacaria como mais relevantes para a evolução do serviço? 

Ao longo de três décadas o GigaPIX (PIX) afirmou-se como um pilar da internet em Portugal. Foi responsável pela criação da primeira rede de troca de tráfego no país (IXP) garantindo maior eficiência e redução de custos na circulação de dados, e, desde cedo, promoveu a cooperação entre entidades públicas, privadas e académicas, reforçando o seu papel como ponto neutro e estratégico para o ecossistema digital. 

Entre os marcos durante este percurso destacam-se a introdução das primeiras portas a 1 Gbps em 2001, ano em que passou também a integrar o EuroIX, ligando Portugal a uma rede de pontos de troca europeus e aumentando a sua visibilidade internacional. Em 2003, foi pioneiro ao disponibilizar suporte para IPv6 antecipando tendências globais e incentivando a modernização dos seus membros. Poucos anos depois, em 2008, introduziu as portas a 10 Gbps, seguidas em 2018 das portas a 100 Gbps, sempre numa lógica de crescimento sustentável e de resposta ao aumento do tráfego digital. 

Mais do que acompanhar a evolução tecnológica, o PIX tem sido parte ativa da transformação digital em Portugal assegurando que empresas, instituições e cidadãos beneficiam de uma internet mais rápida, estável e segura. Trinta anos depois, continua a ser sinónimo de inovação, cooperação e confiança no futuro digital do país. 

Quais são as prioridades e os planos futuros para o PIX em termos de capacidade, tecnologia e expansão? Como vê o PIX nos próximos 10 anos? 

Durante este ano, temos tentado executar melhorias imediatas, tais como a deslocalização de metade dos route-servers da mesma infraestrutura de hypervisores para complementar a sua redundância, a substituição de equipamentos faulty em end-of-life, migração de bastidor num dos DCs das nossas instalações na Avenida do Brasil, em Lisboa, com o objetivo de libertar o antigo para operadores, e ainda a melhoria de vários sistemas de suporte, como o sistema centralizado de logs, entre outros. 

Relativamente ao futuro, foi alinhado com a Coordenação Geral a estratégia a curto e médio prazo, passando pela expansão de localizações geográficas, muito em breve, a remodelação do site, os dados em tempo real através de streaming telemetry e uma nova arquitetura e topologia do PIX, evoluindo a infraestrutura atual puramente layer2, para uma infraestrutura IP (SR/MPLS), garantindo uma melhor utilização das ligações e melhorando drasticamente os tempos de convergência com a aquisição de novos routers com capacidade para portas a 400G. Esperemos concluir todos estes pontos em 2026. 

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